quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

POEMAS ATRIBUÍDOS A AUTORES FAMOSOS

Embora sejam bonitas as palavras, quem conhece um pouco das características do autor, desconfia da autoria quando lê... Nesse poema, atribuído a Pessoa (campeão de atribuições) a única frase realmente dele é a última, encontrada no Tabacaria, Álvaro de Campos (heterônimo de Pessoa), verso 65º. Mas vale a pena ler!



Quero tudo novo de novo. Quero não sentir medo. Quero me entregar mais, me jogar mais, amar mais.Viajar até cansar. Quero sair pelo mundo. Quero fins de semana de praia. Aproveitar os amigos e abraçá-los mais. Quero ver mais filmes e comer mais pipoca, ler mais. Sair mais. Quero um trabalho novo. Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto. Quero morar sozinha, quero ter momentos de paz. Quero dançar mais. Comer mais brigadeiro de panela, acordar mais cedo e economizar mais. Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. Pensar mais e pensar menos. Andar mais de bicicleta. Ir mais vezes ao parque. Quero ser feliz, quero sossego, quero outra tatuagem. Quero me olhar mais. Cortar mais os cabelos. Tomar mais sol e mais banho de chuva. Preciso me concentrar mais, delirar mais.Não quero esperar mais, quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais. Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente e só o necessário para trás. Quero olhar nos olhos do que fez sofrer e sorrir e abraçar, sem mágoa. Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa. Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão. Quero aceitar menos, indagar mais, ousar mais. Experimentar mais. Quero menos “mas”. Quero não sentir tanta saudade. Quero mais e tudo o mais. (até aqui é de autor desconhecido)“E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha". (Fernando Pessoa)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

CRÔNICA


KISS – O ÚLTIMO BEIJO

O primeiro beijo a gente nunca esquece! Pode ser bonito, feio, demorado, rapidinho, roubado, tímido, esperado, sonhado. Em geral, e depende do tempo em que isso aconteceu, sorrimos do nosso comportamento nesse momento tão especial e esperado.
O último beijo não tem a mesma lembrança. Os principais jornais de todo o mundo noticiaram um triste último beijo. Na madrugada de sábado, para muitos jovens de Santa Maria-RS o beijo foi o último. Talvez alguns presentes ainda nem tivessem a experiência do primeiro. Mas foi o último.  Também difícil de esquecer!
Quantos sonhos amontoados em um só lugar? Alguns na expectativa da conclusão da faculdade. Outros comemorando a entrada nela. Alguns querendo diversão com amigos, namorados, parentes. Outros acompanhar o trabalho de sua banda favorita. Alguns comemorando aniversários. Outros apenas acharam algo interessante para se fazer em um sábado à noite.
O ambiente era de festa! Se você estivesse lá pensaria nas condições de segurança? Quando somos impelidos a ir a uma festa, implicitamente sabemos que voltaremos! Muitos sábados na boate Kiss, como em várias boates pelo país, deram certo. Ninguém imaginaria que algo tão ruim pudesse acontecer. Talvez alguém tenha se desentendido no interior da casa de shows, mas rapidamente conseguiu contornar a situação, pois o mais importante era aproveitar o momento de diversão.
Mas uma confusão não conseguiram contornar. Em alguns segundos apenas, a tragédia ganha uma proporção inimaginável. Tumulto, gritos, correria, fumaça, escuridão. Cada um tentando se salvar, procurando uma saída. Mas não havia saídas suficientes. As saídas imaginadas acabaram sendo a última porta a cruzar. Aquilo não fazia parte da festa!
Minutos tornaram-se horas intermináveis. Aqueles que conseguiram sair do horror não acreditavam no que estava acontecendo. Alguns voltavam para procurar seus parceiros que se perderam na confusão. Ficaram lá! E não voltariam mais...
Uma grande comoção! Os números de mortos foram aumentando. Os caminhões chegavam. E corpos iam sendo amontoados para serem removidos daquele caos. Mas o caos se estabelecia por toda a cidade. Parentes foram acordados na madrugada. Quando o telefone toca de madrugada você já imagina algo ruim. E as notícias foram chegando.
Apesar de tantos esforços, muita coisa não foi suficiente. As picaretas para abrir as paredes não foram suficientes. Os tubos de oxigênio e máscaras não foram suficientes. Os leitos na cidade não foram suficientes. Os carros fúnebres disponíveis não foram suficientes. As pás, que antes eram utilizadas para abrir os túmulos no cemitério da cidade, não foram suficientes. Maquinários pesados foram solicitados para atender a demanda. Nem os cemitérios foram suficientes. Quem procurou coroas de flores para fazer a última homenagem, também não achou. Até as flores foram insuficientes.
Este último beijo ninguém quis. O último beijo agora é dado pela mãe, pai, namorados, parentes e amigos que estavam do lado de fora. E isso é inesquecível!
(ALDENIR MALLER)
28/01/2013